Era uma família de novos ricos que tiveram a sorte de ganhar dinheiro abundante, rápido e inesperado. A cultura e conhecimento, por outro lado, eram ainda bem escassos.
Recém-moradores de uma cidadezinha do interior, a fama que a ostentação da fortuna proporciona rendeu-lhes um convite para um jantar na casa do Prefeito. “Venham comer conosco”, foi o convite da primeira-dama à matriarca da rica família.
No dia do jantar, mesa posta à imitação de grandes banquetes, muita pompa, foi servida a entrada. “Um ovo metido à besta”, avaliou em pensamento a matriarca, ovo cozido com cara de coxinha, passado em farinha de rosca e fritado na frigideira.
Como prato principal veio um assado de carne acompanhado com douradíssimas batatas. “Nada de diferente”, pensou a matriarca, “isso eu também conheço e até faço em casa”.
Por fim, a sobremesa. Uma substância amarela, pastosa, parecendo pudim, bastante doce e polvilhada com canela. Satisfeita com a experiência de saborear a desconhecida iguaria, à moda de agradecimento elogiou a primeira dama: “muito gostoso o seu conosco”.
“Perdão?”, perguntou a interlocutora. “Não compreendi”. “O conosco que a senhora nos serve está muito saboroso”, repetiu a velha senhora.
“Conosco?”, estranhou a primeira dama. “Sim, foi a senhora que nos convidou para comer conosco. Esse é o único prato que eu não conheço, então deduzo que esse seja o conosco. Não é?”.
Daquele dia em diante, nunca mais se comeu curau na casa do Prefeito. Passou-se a comer conosco. Deliciosos conoscos.