Saio para atender a campainha e deparo-me com a kombi de uma floricultura estacionada defronte ao portão. Com um volumoso buquê de flores do campo nos braços, o entregador anuncia a destinatária: “Encomenda para a Sra. Ilma”.
Frustrada por não ser eu a destinatária de tão belos exemplares da flora, informo: “Moço, não é aqui”. Ele me olha com desconfiança, confere o número da casa pregado na parede e pergunta:
– Aqui não é a Rua Amadeu Amaral, oito nove nove?
– Sim, é aqui, confirmo a ele.
– Então é aqui mesmo, dona. Rua Amadeu Amaral, oito nove nove, encomenda para a Sra. Ilma.
– Mas não tem nenhuma Ilma aqui, moço. Devem ter informado o endereço errado.
– Está escrito aqui: Rua Amadeu Amaral, oito nove, nove, Sra. Ilma Marilia.
– Eu me chamo Marilia, mas não conheço nenhuma Ilma Marilia.
Já irritado, com um último fiapo de educação o entregador pede: “A senhora pode, POR FAVOR, vir pegar a encomenda?”.
Quando peguei o buquê, um cartão nele pregado estampava com letras cheias de arabescos: “Ilma. Marilia Pioli”.
Só assim, visualizando o cartão, foi que a Ilustríssima destinatária, identificando o ponto revelador da formalíssima abreviação, entendeu a origem de seu “novo” antenome.