Minha avó foi uma mulher muito bonita. Mas os sofridos anos vividos na pobreza, no malabarismo de vários empregos para sustentar 4 filhos (um com deficiência física e mental), mais as dificuldades com o marido que por muitos anos foi alcoólatra, somado à total falta de cuidados pessoais (tanto por escassez de recursos como de tempo), ela envelheceu sem a ajuda de milagrosos cosméticos.
Sua pele, sem nenhum viço, era marcada por fundos sulcos em toda sua extensão. Fisicamente, era assim que eu e os demais netos a conhecíamos. A vó Zoraide era uma mulher ativa, de personalidade forte (e muitas vezes difícil) e rosto muito enrugado.
Certo dia meus primos, então com cerca de 7 anos de idade, estavam mexendo em velhas caixas de fotos e acharam um retrato de uma mulher desconhecida, bem penteada, belos traços. Curiosos, perguntaram:
– Quem é essa?
– É a vó Zoraide – respondeu a mãe.
Desconfiados, com o cenho entortado pela incredulidade, fizeram novamente a pergunta para certificarem-se de que a mãe não estava delirando nem zoando.
– Queeeeeeeeeeeeem?
– É a avó de vocês, quando era moça – esclareceu a mãe.
Intrigadíssimos, por alguns minutos o silêncio acompanhou uma minuciosa análise da situação. Olhavam para a foto, olhavam para a avó. Novamente para a foto, buscando algum traço convergente. Ainda sem estarem plenamente convencidos, buscaram confirmação:
– “É verdade, vó?”.
– “Sim, é verdade. Eu era bonita, né?
Silêncio. Mais detidas observações.
– Manhêêêê… se a vó que era bonita assim ficou aí desse jeito… como é então que VOCÊ vai ficar?
Sincericídio as vezes dói na pele…..
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Mas oque nao tinha de tempo e/ou recursos para os cuidados pessoais, tinha de força, garra e determinação. Nao se entregava nunca.
Saudades da vô Zoraide..
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