Com o pai que eu tenho e o tio que eu tive (irmão do meu pai, infelizmente, para minha imensa e dolorosa tristeza e eterna saudade, já falecido), minha fonte de histórias é praticamente inesgotável.
Hoje divido com vocês uma (haverá muitas mais) das histórias dele, José Henrique, o Tio Zezé, ocorrida nem sei quando.
Rodoviária de São Paulo. Como a missão na cidade, tenha sido ela qual for, já estava cumprida, Zezé foi direto para a Rodoviária só esperar o horário da partida do ônibus rumo a Curitiba. Faltavam ainda muitas horas, então havia nada e muita coisa para fazer. Começou com um jornal, depois deu uma pescoçada em busca de alguma fofoca interessante contada pelos demais passageiros que começavam a aparecer na área de espera, até que o sono bateu. Forte. E ainda havia algumas horas para a partida. Que mal há em uma cochilada?
Apesar do desconforto da cadeira, alcançou seu objetivo. Desligou. Apagou. Até que alguém o sacudia, informando que o ônibus estava para partir. Com os olhos arregalados pela interrupção de algum sonho bom, abraçou-se na bagagem de mão e correu para o ônibus. Foi o último passageiro a embarcar. Acomodou-se novamente e antes mesmo de o ônibus partir já havia adentrado no mundo de Morfeu.
“Senhor. Senhor. Senhoôr. Chegamos”. Novamente um bom sonho interrompido por estranhos. Desencostando a cabeça da janela, dando aquela passada nada discreta do antebraço sobre a boca, os olhos precisaram se espremer para o cérebro captar a paisagem lá fora.
“Espera. Curitiba não tem coreto. Pelo menos não na rodoviária. Onde estou?”. Do lado de fora a cena bucólica de cidades do interior, com um lindo coreto centralizado na arborizada praça nas primeiras horas matinais. A cidade? Não faço a menor ideia. Mas obviamente Curitiba não era.
Na pressa de voltar para casa, ao subir no ônibus em São Paulo a preocupação era apenas localizar a poltrona que nas horas noturnas serviriam de cama. Para que conferir o ônibus? Bobagem!
Não havia indignação ou esperneio com efeitos de teletransporte. Por mais que brigasse, responsabilizasse a empresa ou lançasse impropérios contra quem quer que fosse (incluindo ele próprio), a solução era uma só: esperar o próximo ônibus que partiria dali a muitas horas. Tempo suficiente para gravar a imagem do coreto para sempre na memória.
No horário marcado na passagem o ônibus deixava a cidade do coreto. E vinte e quatro horas depois de ter embarcado em São Paulo ele estava… novamente em São Paulo.
Dizem que ler é uma forma de viajar sem sair do lugar. Bem… essa não é a única forma. Tio Zezé que o diga.
Esta foi boa. Realmente, no que depender desta dupla teu blog terá muitas estórias boas.
Parabéns pelo blog, está maravilhoso!
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Fiquei curioso para saber onde tio Zezé foi parar… hahaha
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Nesta parte a memória não me ajudou. Só sei que é uma cidade em São Paulo que tem um coreto: a Cidade do Coreto 🙂
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adoreI!
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